Trocas comerciais entre Portugal e a Polónia vão atingir mil milhões
Bogdan Zagrobelny, Chefe do Departamento de Promoção do Comércio e do Investimento da Embaixada da Polónia em Lisboa e nosso cliente explica à Vida Económica algumas das vantagens de fazer negócios com a Polónia e revela o futuro promissor da relação entre os dois países.
(Artigo publicado no portal Portugal Global)
TROCAS COMERCIAIS ENTRE PORTUGAL E A POLÓNIA VÃO ATINGIR MIL MILHÕES
Jerónimo Martins, Millenniun bcp e Mota-Engil são exemplos de grandes empresas portuguesas bem sucedidas no mercado polaco. Mas a Polónia é um país muito atractivo para as PME e para as exportações de produtos portugueses – afirma Bogdan Zagrobelny.
Em entrevista à “Vida Económica”, o conselheiro comercial da Embaixada da Polónia em Lisboa destaca o rápido crescimento das trocas comerciais entre os dois países, a expansão da economia polaca durante a crise, e o elevado volume de apoios europeus no novo ciclo de fundos da União Europeia. “A Polónia vai receber 107 mil milhões de euros, sendo o maior beneficiário líquido de fundos europeus” – refere Bogdan Zagrobelny. Uma parte importante dos apoios será canalizada para investimentos em infra-estruturas, criando boas oportunidades para as empresas portuguesas.
Vida Económica – Como perspectiva a evolução das trocas comerciais e de investimento entre Portugal e a Polónia?
Bogdan Zagrobelny – Ao longo destes últimos cinco anos as trocas entre os nossos dois países aumentaram 38%. Estamos perto dos mil milhões de euros em trocas, e o que é interessante. Portugal exportou mais produtos para a Polónia do que nós conseguimos exportar para Portugal: a balança comercial ainda é favorável ao vosso lado, de acordo com os dados da nossa estatística nacional, na verdade para mim é mais fácil e nós usamos sempre esses dados, o que é interessante. O desempenho de Portugal no mercado polaco é muito significativo, porque nesses cinco anos as exportações para a Polónia aumentaram 51% e as importações de produtos polacos cresceram 28%. Portugal descobriu na Polónia um mercado interessante e um mercado de grande dimensão. Basta mencionar que a Polónia, no ano 2013, importou produtos no valor de 157 mil milhões de euros, o que faz da Polónia um importante mercado para os produtos portugueses. Nos produtos portugueses tradicionais, como o vinho e o azeite, o crescimento está a ser muito acentuado. A exportação de vinho para a Polónia aumentou três vezes. Começámos em 2009 com o valor de cinco milhões e no ano passado o valor da exportação de vinho foi de 14 milhões euros, o que revela o potencial do nosso mercado e o empenho dos exportadores portugueses. A mesma coisa aconteceu por exemplo com o azeite. Quando cheguei a Lisboa, em 2009, nós comprávamos azeite no calor de três mil euros e agora representa mais de 600 mil euros, com crescimento de 200 vezes. Vejo a evolução das exportações tanto portuguesas como polacas como um factor muito positivo e muito significativo para as nossas relações e acho que este ano vai ser extraordinário porque provavelmente vamos ultrapassar os mil milhões de euros de trocas entre os dois países.
VE – Entre os produtos que Portugal compra à Polónia, quais são os mais relevantes?
BZ – Os electrodomésticos têm um peso relevante. Ao longo dos últimos 20 anos a Polónia tornou-se um dos maiores produtores de electrodomésticos na União Europeia, nomeadamente, de máquinas de lavar roupa e máquinas de lavar loiça, entre outros. Mas compras de Portugal á Polónia e as trocas comerciais em geral são muito dominadas pelo sector automóvel. Tanto nas importações como nas exportações aparecem produtos que são muito ligados a esse sector, começando pelos veículos que surgem nas vossas exportações e importações de muitos componentes. Portugal tornou-se um importante produtor de componentes e como a Polónia é um país que produz veículos precisa de importar componentes, por exemplo, aparelhos de som, pneus, bem como vários componentes para a parte eléctrica dos carros, fabricados em Portugal. Nós também exportamos para Portugal veículos e também muitos componentes. O principal produto são assentos para automóveis. Além dos electrodomésticos, automóveis e componentes, há a referir o sector alimentar, onde registamos em cada ano um crescimento de exportações de dois dígitos. O valor total das nossas exportações no ano passado foi 60 milhões de produtos agro-alimentares. Vejo também potencial nas compras portuguesas na Polónia de produtos agro-alimentares.
VE – Considera o mercado da Polónia atractivo para outros bens de consumo, como vestuário e calçado?
BZ – Falamos da sociedade polaca que está em pleno desenvolvimento: cresce a riqueza, cresce o bem-estar e cresce também o consumo. A Polónia é um dos países onde o consumo cresce mais. Desse ponto de vista, existem várias oportunidades. As pessoas vão precisar de boas roupas, boa comida, bons carros e bons electrodomésticos. Os polacos são muito abertos aos produtos que vêm de outros países, principalmente produtos alimentícios, e são curiosos em relação aos produtos de outras regiões do globo. Com essa atitude que nós temos, é muito fácil entrar. Mas é preciso ser competitivo, porque o mercado é exigente, pois já há alguma saturação com muitos fornecedores. A Polónia compra todos os anos produtos alimentares no valor de 15 mil milhões de euros, o que é muito, mas exporta ainda mais, cerca de 20 mil milhões de euros. Nós gostamos de comer. Aliás, uma nota curiosa que Pedro Soares Santos referiu a propósito da primeira viagem da Jerónimo Martins à Polónia tem a ver com a ida a um restaurante de hotel. Ao efectuar o pedido, repararam na elevada afluência de clientes e como a comida era apreciada, o que reforçou a convicção de que valia a pena apostar nesse mercado.
VE – Além dos produtos portugueses, que sectores podem atrair o interesse dos polacos?
BZ – Há cada vez mais polacos interessados no turismo. Portugal tem vocação turística e pode atrair cada vez mais visitantes polacos, nomeadamente no turismo religioso. A nível turístico, Portugal é um destino cada vez mais popular. Começam a surgir polacos interessados em investir na actividade turística em Portugal, através da compra de unidades hoteleiras. Na Embaixada recebemos um número crescente de pedidos de informação relacionados com a compra de imóveis em Portugal. Os preços praticados têm um nível comparável aos da Polónia ou são em alguns casos mais favoráveis, face à descida de preços que tem ocorrido no mercado. Neste momento, há mais interesse de cidadãos polacos pelo investimento em imóveis do que na compra de empresas industriais.
POLÓNIA CRESCE O DOBRO DA MÉDIA EUROPEIA
A Polónia foi o único país da União Europeia que manteve o crescimento durante a crise. Em 2010 e 2011 o crescimento médio da economia polaca esteve acima de 4%. Em 2012 e 2013 diminuiu para cerca de 2%. Mas, em 2014, o ritmo de crescimento voltou a subir, devendo ultrapassar os 3%. Para Bogdan Zagrobelny, o crescimento da Polónia deve ser o dobro da média europeia para que o país fique próximo do nível médio de riqueza da UE.
FUNDOS EUROPEUS VALEM 105 MIL MILHÕES
Entre 2014 e 2020 a Polónia vai ser o maior beneficiário líquido de fundos europeus, com um volume de apoios de 105 mil milhões de euros. Para Bogdan Zagrobelny, este volume de apoios vai dinamizar o investimento público e privado, criando boas oportunidades para as PME portuguesas. Uma parte significativa do investimento será feita em infra-estruturas, área em que Portugal tem conhecimento e é competitivo. A presença no mercado polaco de grandes empresas, como a Mota-Engil, no sector da construção, o Millennium bcp, no sector bancário, e a Jerónimo Martins, na distribuição, cria condições propícias à entrada no mercado polaco de PME portuguesas de vários sectores de actividade.
2015-02-10 08:16
AICEP
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